VAMOS BRINCAR DE GANGORRA, MEU AMOR?
VAMOS BRINCAR DE GANGORRA, MEU AMOR?
Quando um está mal, o outro deve estar bem.
Quando um está irritado, o outro deve ser paciente.
Quando um está cansado, o outro deve encontrar disposição.
Quando um adoece, o outro deve mostrar saúde.
Quando um se envaidece de razão, o outro deve ser humilde no
cuidado.
No casal, as fraquezas não podem convergir. Não podem ocorrer simultaneamente.
Se vê que sua parceira explodiu, escolha um momento distinto para desabafar e reclamar. Recue de sua catarse. Deixe para o dia seguinte. Ela nem irá ouvi-lo no acesso de cólera.
Quando os dois decidem ser a parte mais fraca do relacionamento, os laços sucumbem.
Não podem ocupar o mesmo papel, o mesmo script. Só há vaga para um protagonista em cada crise. Alguém terá que ser coadjuvante.
Dois vilões no mesmo filme geram divórcio.
A alternância é o segredo da convivência. Mudar de lugar sempre, analisar quem mais precisa e ceder se for necessário.
O que traz estabilidade é a gangorra: quando a mulher cai, o homem estende o braço, quando o homem vacila, a mulher acode.
A separação acontece quando duas chagas conversam procurando mostrar qual é a mais funda. É quando duas feridas travam uma guerra buscando sangrar mais, e nenhum dos lados estanca a própria carência.
O sofrimento acentua o orgulho, a dor agrava a cegueira, a ansiedade de resolver logo a discordância apenas abre a porta para o fim.
É uma disputa do desespero, e o casal se afoga nas mágoas. Não haverá sequer um salva-vidas acordado.
Ainda que sobre paixão, ainda que reste confiança, nada segura o momento em que os dois coincidem em enlouquecer. A loucura exige troca de plantão.
O casal é capaz de destruir uma história linda e promissora por uma noite de fúria.
A esposa e o marido se transformam em crianças, e crianças abandonadas em casa berrando e com medo. Tentarão gritar alto para chamar os vizinhos e denunciar os maus-tratos. E vão se indispor e se ofender tanto, e vão se provocar e se agredir tanto, que depois é difícil cicatrizar.
Um tem que ser adulto na hora do pânico. Um tem que ser responsável. Um tem que ser forte o suficiente para preservar as fraquezas do amor.
Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 2, 10/12/2013
Porto Alegre (RS), Edição N° 17640
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