Reflexões.. Psi Consciencia
(...) É necessário que a História não
morra, é necessário que os tambores ecoem os cantos vindos nos navios; é necessário
dançar, é necessário o cantar, é necessário o reconhecimento, o pertencer, o
tirar das amarras para que as vozes vindas da mãe África não se calem.
E nos porões sujos dos navios não como este onde estou, aqui
chegamos, contra nossa vontade, chegamos aqui escravizados, como mercadorias,
comercializados nos portos e nas praças, relegados a condições sub-humanas..
Em nossos países éramos livres... reis, príncipes, princesas,
homens e mulheres com diversas ocupações e profissões. Tínhamos nossa cultura,
nossa religião, nossos costumes, nossa comida, nossas cores e nossos diferentes
sabores, nossa arte, nossa musica, nosso dança... Chegamos a Terra do Pau Brasil
e contribuímos para a construção deste país, demos nossos sangues e nossas
vidas em troca de uma liberdade, e ainda temos muito que avançar para que
alcancemos a libertação das novas(?) formas de escravidão. Por diversas vezes
nos rebelamos e tivemos que lutar para a sobrevivência, nos agrupamos em
lugares longínquos... Longe dos Senhores do Engenho e fugindo dos capitães do
mato e dos capatazes... Tempos difíceis...
Na região de Campos dos Goytacazes, passamos a ocupar uma Parque
do Parque Estadual do Desengano, área conhecida com Imbé, muita mata atlântica,
cachoeiras, fauna e flora riquíssima! Ali nos reunimos nos primeiros quilombos
que tem se tem noticia! Plantar e cultivar a própria terra, para dela extrair o
alimento para a sobrevivência, para a troca e fixação do homem no seu
território, que é marco de resistência!
Hoje damos um passo importante, ao apresentar o prato conhecido como
Cantão, uma preparação composta de carne seca, desfiada e acebolada,
acompanhada de purê de banana verde e arroz branco, típico do Quilombo de Conceição
do Imbé, um dos mais pedidos nas Oficinas de Culinária A Cozinha dos Quilombos
de Campos dos Goytacazes: Sabores, Territórios e Memórias, que tem como proposta:
Conhecer aspectos históricos e culturais da alimentação no Brasil; reconhecer
os hábitos alimentares como um fator importante da identidade cultural do nosso
povo; conhecer alguns pratos, utensílios e modos de preparo da cozinha
brasileira; reconhecer a herança dos negros e negras na cozinha brasileira de
hoje, em especial as preparações da alimentação cotidiana dos remanescentes
quilombolas de Campos dos Goytacazes.
São ações do Projeto Cores, Sabores e Valores que vão tomando
forma e contribuindo para a preservação dos hábitos alimentares e culturais de
um segmento tão importante da nossa população, os remanescentes de quilombolas
oriundos da Região do Imbé, pois acredito que na comida está um dos mais
significativos elos entre a pessoa, sua cultura, entre a pessoa e sua
identidade. Os elementos da comida (cor, textura, odor, temperatura, objetos
complementares), bem como quantidade e maneiras de ingerir, trazem e ativam
conhecimento, reforçando memórias, pois o homem tem fome de símbolos, que se
baseia numa interessante pesquisa que resultou no Livro A Cozinha dos
Quilombos: Sabores, Territórios e Memórias, lançado recentemente pelo Instituto
Dagaz, mapeando os hábitos alimentares dos quilombolas do Estado do Rio de
Janeiro, dentre eles os quatro certificados pela Fundação Cultural Palmares.
Cantão
Ingredientes
1
kg de carne seca
2
dúzias de banana nanica ou banana figo verde
Cebola
a gosto
Alho
a gosto
Cheiro
verde a gosto
Modo
de preparo
Dessalgar a carne seca fervendo-a cada fervura.
Descascar a banana com faca, picar em cubos pequenos e colocar de molho em água fria. Picar e socar a cebola junto
com o alho, refogar em três colheres de sopa de óleo, deixar dourar e
acrescentar a carne seca. Deixar cozinhar ate ficar bem macia. Reservar em
outro recipiente.
Na panela que foi refogada e cozida a carne,
cozinhar também a banana, cobrindo-a com o caldo dessa carne ate que a banana
se desmanche. Deixar ferver e engrossar.
Servir com a carne e o arroz branco.
Referência:
A
Cozinha dos Quilombos Sabores, territórios e memórias, Instituto Dagaz. Grafica Ediouro, Rio de Janeiro:
2015.
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