Dona Ivone Lara: a enfermeira do samba

Foto: Divulgação

Quando trabalhava como enfermeira e, depois, como assistente social do Instituto Psiquiátrico Pedro II, no Engenho de Dentro, Dona Ivone Lara costumava percorrer as enfermarias e pavilhões em busca das histórias, referências e laços familiares dos pacientes. Era uma rotina, que além de dar-lhe satisfação, fazia parte do tratamento terapêutico. Entre uma busca e outra, Dona Ivone descobriu Ribamar, um paciente que recebia os cuidados da jovem enfermeira por estar com a saúde debilitada, mas que ainda assim guardava em sua mente confusa, as lembranças da época em que animava os salões do Rio como músico da Orquestra Tabajara.

A música, ou melhor, o samba, sempre esteve associado de uma forma ou de outra a esta senhora de 87 anos – ela completa 88 anos no dia 13 de abril -, nascida no subúrbio do Rio e que se tornou a diva do samba e uma das maiores representantes da história do Império Serrano, sua escola de coração. Na década de 40, Dona Ivone compunha seus sambas quase que clandestinamente, para fugir do preconceito reinante à época. Ela recorda dos tempos em que corria de um emprego para outro para garantir o seu sustento.

- Na minha época de enfermeira eu trabalhava 24/48 horas e corria para a Maternidade de Cascadura para complementar o salário -, diz a sambista, que prestou concurso público para o Ministério da Saúde em 1942, antes de ingressar na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, onde atuou como enfermeira e, depois, como assistente social por 38 anos.

Mesmo aposentada desde 1977, dona Ivone empresta sua solidariedade aos colegas de profissão que, como ela, lutam por melhores salários e por uma jornada de trabalho mais justa e menos desgastante. Ela disse apoiar a luta da categoria a favor da regulamentação da jornada de trabalho de 30 horas por semana, contra as 40 horas semanais como querem manter os empregadores.

- Minha primeira profissão na vida foi como enfermeira. Depois que saí do colégio interno, entrei na Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, na década de 30, onde permaneci por oito anos. Era a primeira escola de enfermagem do país, lá Praia Vermelha – recorda Dona Ivone, que se recorda ainda de ter frequentado a Escola de Enfermagem Anna Nery.

Quando o assunto é carnaval, a diva do samba afirma que passará os quatro dias de folia reclusa em casa, no subúrbio de Oswaldo Cruz, assistindo aos desfiles das escolas de samba pela tv.

- Já estou com 87 anos. Desfilo desde 1947. A última vez que desfilei pelo Império foi há quatro anos, na ala das baianas. Senti muito cansaço – recorda a autora do samba “Os cinco bailes da corte” juntamente com o não menos importante Silas de Oliveira.

Sobre o carnaval dos dias de hoje, dona Ivone não hesita em criticar as regravações de sambas enredo que caíram nas graças do público em anos anteriores. Ela lembra que os seus filhos costumavam tirar boas notas na escola “de tanto ouvirem os sambas que contavam a história da Família Real no Brasil”, relembra.

- Está faltando criatividade. Antigamente, você recebia a sinopse do enredo, fazia o samba e contava tudo com melodia. Hoje em dia quase não tem melodia - diagnostica com sabedoria a diva da escola do Morro da Serrinha, em Madureira, demonstrando a segurança típica de quem fora privilegiada com um dom concedido a poucos.

Comentários

Irapoan disse…
D. Ivone Lara... é um ícone aqui no Rio. O que eu não imagina é que ela fosse enfermeira. Adorei o post Larie. Estou aguardando ansiosamente pelos próximos.
Anônimo disse…
Larissa acabando com tudo!!!

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