ARTIGO: De seres humanos a estatísitcas

Cláudio Andrade

Na última terça-feira, mais um cidadão foi assassinado nas cercanias do Liceu de Humanidades de Campos. Trata-se da quarta morte em menos de um ano, tornando a área uma das mais violentas da cidade.

Não podemos esquecer que inúmeros roubos são praticados contra estudantes e o engarrafamento cada vez maior nos horários de ‘pico’ favorece a prática de assaltos nos sinais da região.

A área do Liceu abrange também os Colégios Auxiliadora, Bittencourt, Anglo e Batista: todos no mesmo raio de ação dos criminosos. Nossa cidade perdeu a sua essência pacata. Nos idos da década de noventa, era corriqueiro o passeio dos jovens pelas ruas, à noite, em busca de diversão. Chegávamos a casa, de madrugada, sem o receio de sermos surpreendidos por delinqüentes armados e dispostos a tirarem nossas vidas.

Hoje estamos perdendo nosso poder de indignação. Um corpo estendido no asfalto não surpreende mais. Trata-se de mera estatística. A violência nítida que enfrentamos, em nossa cidade, está operando uma sensação preocupante no subconsciente do cidadão campista. Parece que estamos perdendo a vontade de lutar por uma cidade mais segura.

As tradicionais casas e seus baixos muros estão sendo demolidas, dando lugar às muralhas com cercas elétricas. Nossas crianças, no auge da descoberta, são relegadas ao play dos prédios sem o direito de darem um passeio pelas ruas, inclusive nos sábados, domingos e feriados.

A violência chegou firme aos bairros ditos nobres. A elite campista encontra-se espremida entre o poder aquisitivo e o receio de ser vítima dele. As autoridades trabalham sempre em cima das estatísticas que, ao meu sentir, não revelam de forma clara a real situação em que vivemos. Até quando assistiremos, atônitos, ao extermínio de chefes de família, pais, mães e crianças que, alheios à violência, acabam sendo vítimas dela?

Nossas entidades de classe não estão cobrando das autoridades da forma como deveriam e o fato de representarem parcelas consideráveis da sociedade as tornam legitimas a uma ação mais contundente. É preciso que haja uma ação que pressione as autoridades ao ponto de se provocar uma reação imediata que reduza a nossa indignação por ostentarmos mais de oitenta homicídios somente neste ano. Caso não reajamos, passaremos de seres a números, ou seja: meras estatísticas.

Advogado e Professor Universitário.odireitodesaberdireito@gmail.com

Comentários

Anônimo disse…
O Claudio foi muito feliz em seu texto. Diz exatamente o que está acontecendo. Muito desgastante todos os dias se deparar com mortes e mais mortes e, as autoridades (também com isso passivas de serem mortas) cruzam os braços, deixam umas irrequietas patrulhas "passeando" pelos bairros e, nenhuma , pelo menos impondo presença em pontos cruciais.Mortes, mortes e mortes, famílias esfaceladas, criminosos dividindo cafezinho nos butecos das esquinas. A Prefeitura de nossa cidade nem aí. A Polícia, muito menos. Reflexos de um tempo sem dono.
Complexo é sair a rua com medo esconder o celular dentro da roupa, não poder andar com dinheiro, e o medo que nos ronda nos limita, nos toli. Isso tudo é muito complexo. Todos deveriam se unir contra a violência. Se daqui há 10 anos nossa cidade virar um caos porcausa do Porto do Açu a culpa será de cada um de nós, que não foi capaz de se indignar, que aceitou passivamente, que não fez nada...

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