Petróleo chega perto de US$ 120 e reforça pressão sobre inflação global
Segundo analistas, fatores pontuais e estruturais explicam a alta, que chega a 24% em 2008 e a 70% em 12 meses
A escalada das cotações do petróleo parece não ter fim. Ontem, os contratos futuros para entrega em maio fecharam pela primeira vez acima de US$ 119 o barril na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex, na sigla em inglês). A disparada dos preços - que chega a 24% apenas em 2008 e a quase 70% nos últimos 12 meses - pressiona a inflação global e traz de volta o debate sobre uma eventual estagflação nos Estados Unidos. Esse processo é caracterizado por baixo crescimento e preços com tendência ascendente. “(O petróleo) apagou qualquer possibilidade de recuperação econômica (nos EUA), pois, a partir de um certo momento, o consumidor terá de parar de gastar”, disse Angel Mata, diretor-gerente da Stifel Nicolaus Capital Markets, em Baltimore. As bolsas americanas caíram ontem principalmente por causa da commodity.
O Índice Dow Jones perdeu 0,82% e a bolsa eletrônica Nasdaq, 1,29%. Segundo analistas, há razões pontuais e estruturais que explicam a alta do petróleo nos últimos dias. Entre os pontuais estão distúrbios nas instalações da Shell na Nigéria, uma possível greve em uma refinaria na Escócia, a desvalorização do dólar ante o euro, além de informações segundo as quais a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) reluta em elevar a produção. Estruturalmente, destacam-se as pesadas compras feitas pela China, em especial nas últimas semanas. “Não parece haver nada no horizonte que faça as pessoas quererem sair do ouro negro”, afirmou George Gero, vice-presidente de futuros globais da corretora RBC Capital Markets, em Nova York.
Na segunda-feira, o grupo empresarial que explora petróleo na Nigéria (e inclui a Shell) disse que foi forçado a suspender, até maio, as exportações de 169 mil barris por dia, provenientes de um terminal no sul do país, por causa do ataque a um oleoduto na semana passada.
Os nigerianos estão entre os cinco principais exportadores para os EUA, maior consumidor mundial de petróleo. A ameaça de uma greve em uma refinaria que produz 196 mil barris por dia na Escócia ajudou a ampliar os temores de que uma paralisação poderá afetar a produção nos campos de petróleo do Mar do Norte.
Ao mesmo tempo, a demanda global de petróleo deve crescer cerca de 1,3 milhão de barris por dia este ano, para 87,2 milhões de barris/dia, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). Enquanto a desaceleração da economia dos Estados Unidos contrabalança o temor com a alta da demanda, a China reforça a preocupação.
O gigante asiático importou um recorde de 4,09 milhões de barris por dia no mês passado, segundo dados da Administração Geral de Alfândega. “Do ponto de vista dos investidores, os fundamentos de oferta e demanda não parecem que entrarão no território de oferta excessiva no curto prazo”, disse Bart Melek, estrategista de commodities da corretora BMO Capital Markets, em Toronto.
Analistas do banco francês Société Générale destacaram, ainda, a importância da deterioração do dólar para a recente alta da commodity. Ontem, pela primeira vez na história, o euro chegou a valer mais de US$ 1,60. Como as cotações do petróleo têm como referência a moeda americana, os investidores tendem a valorizar a commodity para manter seu valor real.
SEM ESPERANÇA
No mesmo dia em que as cotações bateram recorde, o 11º Fórum Internacional da Energia, realizado em Roma, terminou sem sinais de que os preços vão cair no curto prazo. Os participantes do encontro reconheceram que a especulação financeira tem uma crescente influência no comportamento dos preços, aumentando a volatilidade.
Esse fenômeno, segundo os especialistas, pode desencorajar os investimentos no setor. “Os consumidores nos pedem a garantia de abastecimento, mas, para desenvolver a capacidade necessária no futuro, é preciso clareza sobre como evoluirá a demanda”, afirmou o secretário-geral da Opep, Abdala Salem El-Badri.
Na mesma reunião, o diretor-executivo da AIE, Nobuo Tanaka, manifestou preocupação com o impacto econômico da alta do petróleo. “Definitivamente, haverá alguma influência negativa no crescimento global”, disse. Segundo os especialistas, isso ocorre por causa do efeito inflacionário da alta da commodity.
Para conter a inflação subseqüente à elevação, os bancos centrais são obrigados a elevar as taxas de juros, o que reduz a atividade econômica. O barril do tipo WTI (leve) para entrega em maio, negociado em Nova York, subiu 1,61% ontem, para 119,37. O barril do tipo Brent para junho subiu 1,33%, para US$ 115,95, em Londres.
AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
Fonte: Jornal Estadão
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