Albert Hofmann, descobridor do LSD, morre aos 102 anos



Cientista considerava injusta a proibição da droga e defendia pesquisas medicinais controladas

Albert Hofmann, o "pai" do ácido lisérgico (LSD), morreu ontem aos 102 anos na cidade de Burg im Leimental, na Suíça.O LSD, alucinógeno descoberto por Hofmann, inspirou e afetou consideravelmente a saúde mental de milhões de hippies nas décadas de 1960 e 1970.

Anos depois da proibição da invenção, Hofmann a defendia com afinco. "Eu produzi a substância como um remédio. Não é minha culpa se abusavam dele", declarou, certa vez.

O químico descobriu a dietilamida do ácido lisérgico (LSD-25) em 1938, quando estudava as aplicações medicinais de um fungo encontrado no trigo e em outros grãos para a companhia farmacêutica Sandoz.Hofmann tornou-se a primeira cobaia de sua invenção, quando tocou com o dedo, acidentalmente, na substância em 1943. "Precisei sair do laboratório e voltar para casa porque comecei a sentir mal-estar e tontura", escreveu em um memorando a seus chefes."Tudo o que eu enxergava era distorcido, como um espelho ondulado", disse ele sobre a volta para casa, de bicicleta.

Ao chegar em casa, Hofmann acomodou-se em um divã e começou a experimentar o que chamou de "visões maravilhosas".Três dias depois, o cientista experimentou uma dose maior.

O resultado foi uma viagem de horror. "A substância tomou conta de mim. Eu sentia um medo devastador de enlouquecer", escreveu.

A expectativa de Hofmann e de seus colegas pesquisadores era de que o LSD desse uma importante contribuição para a psiquiatria.

A droga amplificava problemas e conflitos internos e a esperança era fazer com que ela fosse usada para reconhecer e tratar problemas como a esquizofrenia.EXPERIÊNCIAA Sandoz chegou a comercializar o LSD-25 sob o nome de Delysid e encorajou médicos a testarem em si mesmos. Foi um dos remédios mais fortes de que se tem notícia.

A droga ganhou fama internacional entre 1950 e 1960, quando o professor Timothy Leary, de Harvard, passou a defender seu uso com a frase "ligue, sintonize a caia fora".

O ator Cary Grant e diversos roqueiros passaram a propalar as virtudes do LSD na busca por autoconhecimento.

Além das viagens psicodélicas, porém, começaram a aparecer notícias de homicídios e pessoas pulando de janelas em meio a alucinações provocadas pelo ácido. Usuários freqüentes sofreram danos psicológicos permanentes.

O governo dos Estados Unidos proibiu o LSD em 1966. A medida foi adotada a seguir pelos demais países.Hofmann admitia que o LSD era perigoso em mãos erradas, mas defendia que fossem permitidas pesquisas medicinais com a droga.

Em dezembro do ano passado, autoridades suíças liberaram o uso do LSD para tratamento psicoterápico em casos excepcionais.

Albert Hofmann deixa um filho e uma filha. Sua esposa, Anita, e dois de seus quatro filhos morreram antes dele.

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