“A hora é de sentar e conversar” - Entrevista com o Prof. Luciano D’Ângelo no Jornal Folha da Manhã|

Foto: Silêsio Corrêa

Quem já o viu disputando eleição, sabe que poucos quadros de Campos vibram com a política de maneira tão intensa. Articulador mais experiente do PT local, do qual garante nunca ter se afastado, o professor Luciano D’Ângelo descarta seu nome como opção numa chapa unida com o PSDB, para o pleito de outubro, mas defende o nome dos petistas Makhoul Moussallem e Roberto Moraes. Definidos os nomes tucanos, o critério de escolha pode não ser simples, mas é o único que ele diz funcionar na política: sentar e conversar. Dada a exigüidade do tempo até as convenções de junho, acha que já passou da hora disso acontecer de maneira formal. Na formação da frente, quer também partidos como o PC do B, PPS, PHS, PV, e até quem simpatiza ou já simpatizou com Garotinho.


Folha — Como vê a possibilidade de aliança do seu partido com o PSDB, visando a eleição de outubro, acenada e endossada numa série de entrevistas da Folha?


Luciano D’Ângelo — O município vive uma grande crise política e o PT foi envolvido nela. Internamente o PT também não conseguiu se organizar, já vem há anos tendo dificuldades em eleger vereadores, deputados, se tornar um partido grande na cidade. Mas o que quero acentuar aqui é que, hoje, nós temos que cuidar aqui deste município. O caráter dessa eleição, diferente das anteriores, está pautado exclusivamente na luta municipal. Esse é o foco principal. É o contrário de 2004, quando se buscava combater um oponente de Lula, o Garotinho. Agora, eu diria que Lula é que precisa ajudar este município. A direção nacional é que tem que se movimentar para ajudar a construir, aqui, aquilo que eu considero que seja a melhor alternativa. Que pense no novo para a cidade, uma situação nova. Que possa afastar aquilo que não deu certo. Seja o governo do Mocaiber, seja o governo do Arnaldo e muito menos o governo Garotinho. Quer dizer, é preciso criar uma situação nova em relação a esses fatos. Como fazer isso, eu diria que não é uma aliança exclusiva de PSDB e PT, não.


Folha — De mais quem?


Luciano — Eu diria que seriam os dois atores mais importantes, mas incorporando o PHS, um partido que está aí buscando uma alternativa nova; o PC do B, que vem sempre compondo e é um partido muito centralizado em suas decisões; o PPS, o PV. Esse teria que ser o movimento. Folha — Makhoul não já manteve contato com esses partidos? Luciano — É possível até que o dr. Makhoul tenha promovido essas conversas, mas não sabemos os resultados delas. Eu quero que de fato elas aconteçam, que vão à frente. Eu não sei se o PSDB está tendo essas conversas. Aí eu quero formular uma proposta. Na verdade, diria que cabe ao PT e ao PSDB apresentar seus nomes. O PT tem dois...


Folha — Que são?


Luciano — Eu diria que dr. Makhoul se credencia pelos movimentos eleitorais que fez e acho que o professor Roberto Moraes é um gestor, já foi deputado, teve votos.


Folha — Foi deputado?


Luciano — Foi candidato a deputado (estadual), teve votos, teve 12 mil votos quando foi candidato a deputado. Folha — Em Campos, teve 9.700 votos (em 2002). Luciano — Em Campos, mas teve 12 mil votos no Estado. Folha — E, em todo o Estado, perdeu para o outro petista local candidato à Alerj, Antônio Carlos Rangel, que só em Campos fez mais 13 mil. Luciano — Então, no momento em que duas lideranças muito próximas, muito semelhantes, podiam, se unidas, ter feito uma votação mais importante. Mas o Roberto, além disso, foi um gestor consagrado e nós estamos precisando muito de um gestor. Se você me perguntar se o Alexandre Mocaiber foi bem politicamente, eu diria até que foi. E isso não foi bom para a cidade. E acho até as lideranças têm feito muitos movimentos no sentido de se construir um forte movimento partidário eleitoral e têm se desleixado da gestão. Eu digo que com os recursos que essa cidade tem, nós temos uma gestão desastrosa. Não adianta você ganhar a eleição e gestar mal no dia seguinte. Às vezes eu brinco com meus companheiros do PT, não adianta ter hegemonia para depois perder a eleição, não eleger nem vereador.


Folha — Mas, primeiro, sem ter a maioria de um partido e, depois, sem a aliança entre partidos, você também não ganha eleição.


Luciano — Certamente. Mas é muito mais grave você ganhar a eleição e ser mal sucedido do que perder eleição. Para a nossa cidade é muito mais grave. Então eu diria que o PT tem esses dois nomes, são bons nomes. O PSDB apresenta nomes novos, o que é uma coisa interessante.


Folha — Mas como definir entre os nomes do PT e do PSDB?


Luciano — Apesar do tempo ser curto, eu não quero que a pressa acabe impedindo que você faça uma construção mais articulada.


Folha — No seu entender, qual seria a melhor hora de decidir?


Luciano — À frente, à frente...


Folha — Qual o critério?


Luciano — O critério político de conversa. É sentar e conversar. Se as partes entenderem que cada uma tem o melhor candidato, certamente essa ponte não vai se construir.


Folha — Por isso pergunto, na sua opinião, qual seria o critério.


Luciano — O critério de conversação, de entendimento...


Folha — Quem tem contato com os bastidores da política, sabe que você já conversou dentro do próprio PT e também no PSDB, com Feijó, tentando viabilizar o nome de Roberto Moraes...


Luciano — Não... Eu já conversei com Gel Coutinho, se você não sabe. Folha — Embora o próprio Gel tenha me dito, o que eu sei ou deixo de saber é menos importante que o fato de já ter havido conversas várias e, até agora, nenhum encontro formal entre os dois partidos. Luciano — É preciso haver, é preciso haver...


Folha — Por que não houve ainda? Como você disse, o tempo é curto.


Luciano — É uma boa pergunta, e quem tem que responder são os dirigentes partidários, porque até então não fizeram isso. E, se estão fazendo, fazem de forma muito acanhada. Mesmo que eu hoje não seja dirigente do PT, estou fazendo esse exercício. E as pessoas têm que fazer também. Há de chegar uma hora que as pessoas vão ter que sentar e resolver. E elas serão responsabilizadas, os dirigentes, quem têm poder para fazer indicação do partido. Se sair cada um com sua candidatura própria, estarão cometendo um erro e eu os responsabilizarei por não terem tido habilidade, insistência política para construir a frente. Eu diria que o município está a cobrar isso com muita veemência dos políticos, como eu vou cobrar dos dirigentes do meu partido, não tenha dúvidas.


Folha — Entre os dois nomes que você apresentou do PT, Makhoul e Moraes, sua preferência é pelo segundo?


Luciano — Não, eu não defendo um nome... Eu apenas coloquei dois nomes... Eu considero dentro do conjunto das pessoas que eu converso, alguém que tem o perfil melhor, mas absolutamente não imponho esse nome se a frente estiver construída... Quem tem que escolher um nome é a frente e não eu... Dentro dessa frente, acho que o PT tem dois nomes, e eu carrego os dois. Qualquer dos nomes e do terceiro nome, se o PT escolher um terceiro nome.


Folha — Você não seria um nome?


Luciano — Meu nome não é o caso. Não sou candidato a nada. Não há essa possibilidade. Todos sabem disso. O dr. Makhoul já sabe disso. As pessoas do PSDB que conversei já sabem disso. Qualquer sondagem a respeito do meu nome foi abortada com total falta de cerimônia. Mas quero registrar que o PT hoje tem muitos nomes, mas dois estão evidenciados para mim, enquanto militante. Acho que devem levar esses dois nomes à mesa de negociação. Eu acho que neste momento do município, nós precisamos fazer isso, não só PT e PSDB, mas todos os partidos que buscam uma alternativa para Campos.


Folha — Mesmo com um candidato do PSDB na cabeça de chapa?


Luciano — Mesmo que tenha. Folha — E esse “fogo amigo” que, volta e meia, abrem contra você e o Moraes, de distanciamento da vida interna do PT?


Luciano — Conversa, conversa. Eu participo de tudo.


Folha — Conversa flácida para bovino cochilar, como disse o Roberto Henriques?


Luciano — Essa é uma visão muito tacanha da visão política. Eu contribuí muito mais para as legendas do partido, para deputado federal no Estado, do que o conjunto dos militantes que vivem em reunião. O fato deles estarem sempre presentes nas reuniões, elegendo executiva e diretório, não permitiu a eles eleger nem vereador. Mas também não quero trazer isso à pauta agora, porque não ajuda na construção da frente.


Folha — E ajuda a lembrança de que quem controla a executiva e o diretório do PT participou do governo Mocaiber, como você e Moraes fazem?


Luciano — Nem tanto, não temos atacado tanto não.


Folha — Como não, se numa entrevista na UniTV o Roberto se lançou candidato e afirmou que Makhoul, por ter participado do governo Mocaiber, não tem condição de ser?


Luciano — Eu já discuti isso com Makhoul. Na última reunião, a gente conversou isso. Eu não estou discutindo a boa fé ou a má fé de quem fez isso, até porque acho que meus companheiros do PT são gente séria. Mas eu não concordei com esse movimento, até porque acho que não elegeria vereadores do PT. Tanto é que não elegeu. Cadê?


Folha — Nem poderia haver, pois ninguém em juízo político perfeito faria o acordo se contasse com 11 de março, não?


Luciano — Quando eu fiz essa crítica, não tinha esse cenário. A minha crítica é anterior, porque se pegar a Folha, vai ver lá em um momento anterior: o secretário de Sáude, Rodrigo Quitete, dizia que era candidato para onde o prefeito mandasse. Não é o militante que eu espero que a gente eleja vereador. Nós estamos há oito anos sem vereador e vamos eleger alguém que diz que será candidato onde o prefeito, que não é do PT, mandar? Isso não é uma explicação séria. Folha — Um dos que também cobraram explicações dentro do PT, o Fábio Siqueira, fez um raciocínio interessante, em outra entrevista da Folha, dizendo que somados os votos do PT e PSDB, em 2004, um candidato de ambos chegaria ao segundo turno em 2008. Luciano — Eu não sei se esse somatório funciona politicamente assim...


Folha — Talvez não, mas é uma leitura lógica. Luciano


— E necessária, de modo que estou aqui para construir a frente. Pode até não ser com nenhum desses nomes que eu trouxe aqui. Eu acho que esse é o exercício de flexibilidade, que nós teremos que ter. Eu espero que a sociedade compreenda que o Garotinho é o responsável por essa crise. Tudo começou com ele, que não conseguiu capitalizar essa crise.


Folha — Por que?


Luciano — Eu não sei nem por que, talvez porque ele seja responsável pela gestão dos quadros políticos que no meio da crise. Se você olhar bem a história desse grupo, ele é o mesmo, que se dividiu em dois. E se não fosse o golpe que sofreu Mocaiber, em 11 de março, se dividiria em três. Enxergar isso não me faz ser portador de um antigarotismo doentio, porque eu espero que essa frente consiga atrair setores que até simpatizam ou simpatizaram com ele, em algum momento, e estão aí indefinidos. Esse é o papel dessa frente.



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