Um erro monumental

Tratar um monumento como mero adorno de praça, feito um quadro remanejado para combinar com o sofá. Não perceber que memória coletiva é algo delicado e qualquer intervenção na sua construção deve ser amplamente discutida e cautelosamente pensada. Agir como se administrasse um negócio privado, ou dispusesse de uma coleção particular, e pudesse mexer em suas peças sem dar satisfação a ninguém.
Este foi o comportamento do governo do prefeito Alexandre Mocaiber, nesta semana, no triste episódio da remoção do conjunto de estátuas em homenagem à Abolição, instalado em 2003, por sugestão do poeta Antônio Roberto Fernandes, em frente ao Palácio da Cultura – e próximo ao Panteão dos Heróis Campistas, onde estão os restos mortais de José do Patrocínio, um dos representados na escultura.
Quando nem mais se imaginava que este governo pudesse se superar em trapalhadas, após ter alçado a cidade à condição de merecedora do escárnio nacional, e que apenas um melancólico fim de mandato se daria, eis que o campista é presenteado com mais esta.
Este governo não tem mais legitimidade nem para tomar boas decisões, quanto mais para as ruins. Tudo que dele sai traz a marca da desconfiança. E o mais prudente seria é se mantivesse apenas os sinais vitais da administração, abstendo-se de qualquer decisão que pudesse interferir mais acentuadamente na vida da cidade. O melhor que pode fazer o atual prefeito é não tomar nenhuma medida importante. Fará menos mal aos munícipes se fingir-se de morto até 31 de dezembro.
A mal assumida decisão de remover o monumento, que não mereceu defesa inclusive de muitos setores do governo - a começar pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima – foi rechaçada por vários segmentos da cultura do município, que não haviam sido consultados.
Na administração, não se consegue apontar claramente quem foi o responsável pela idéia. Há constrangimento até mesmo entre secretários municipais. Até o momento em que escrevo (às 6h da sexta, 21), o site da Prefeitura não havia dado uma linha sequer sobre a remoção que ocorrera na terça, 18, foi denunciada em primeira mão por este Monitor na quarta, 19, e ganhou maior repercussão na imprensa na quinta, 20.
O mínimo que a sociedade pode exigir, agora, é que se reponha o conjunto de estátuas no lugar e que se responsabilize administrativamente quem tomou a decisão de removê-las. Inclusive condenando-o a cobrir, com dinheiro próprio, os custos decorrentes desta lambança.
O prefeito Alexandre Mocaiber deve ter a grandeza de voltar atrás nesta insanidade e pedir desculpas à população.
Se não por respeito à cidade, se não por humildade para admitir o erro monumental, ao menos que seja em memória do poeta Antônio Roberto, que preferiu partir antes de ver a gestão do município ameaçar manter José do Patrocínio sob a mira de um canhão.
[Artigo do Jornalista Vitor Menezes, publicado na edição de hoje do Monitor Campista]

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