Grupo de Jongo Tambores da Machadinha, de Quissamã, abre a programação 2ª da Mostra do Filme Ambiental e Etnográfico de Rio das Ostras




Os instrumentos de batuque marcam o ritmo da dança africana vinda para o Brasil há quinhentos anos, do Reino do Congo. O jongo caracteriza-se pelas cantorias entoadas pelos negros escravos, compassadas como toque das mãos no tambor de couro, o caxambu - tambor grave - e o candongueiro, o tambor agudo. Arrastando os pés no chão, em dupla, ou sozinhos, rodeados, homens e mulheres batiam palmas atualizando a dança africana e o lamento dos negros escravizados nas senzalas do sudeste brasileiro.

Como células vivas disseminadas nessa região, o jongo está ressurgindo através da prática da expressão cultural de comunidades remanescentes de quilombos em Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro. E é em Quissamã, cidade do norte-fluminense do estado do Rio, próxima a Rio das Ostras, que os descendentes de africanos da Machadinha reatualizam o jongo, tradição hoje manifestada pela sexta geração dos escravos que ali trabalhavam na lavora de cana-de-açúcar.

Segundo o pesquisador Francisco Luiz Noel, em seu artigo "Manifestação de origem africana sobrevive e se consolida como patrimônio cultural", publicado em abril do ano passado no Portal do Sesc São Paulo e mais difundido através do Boletim Famaliá, rede de notícias das culturas populares brasileiras, "em Quissmã mestres locais como Maria Natividade Azevedo, de 78 anos, a Dona Preta, sua prima Guilhermina Azevedo, de 68, a Dona Chêro, e o bamba do tambor Erotides Azevedo, de 86, não praticavam o jongo desde os anos 1970. Um projeto de recuperação da culinária típica dos tempos da escravidão foi o suficiente para aglutinar os jongueiros e rememorar pontos, ritmos e passos que hoje são praticados pelos integrantes do grupo Tambores da Machadinha. O jongo de Quissamã faz parte de um relicário único na tradição afro-brasileira, pois seus praticantes vivem na senzala que abrigou seus antepassados; patrimônio que também serve de pano de fundo para danças como a do boi malhadinho e do fado (bailado com viola e pandeiro sem semelhança com o homônimo português", sendo a Machadinha a única comunidade que ainda dança o Fado Angolano no Brasil.

Assimilação rítmica marca singularidade do jongo da Machadinha
De acordo com Noel os jongueiros de Quissamã preservam ainda uma singularidade: a variedade rítmica. "Enquanto só um ritmo é cultivado nos outros locais, os jongueiros da Machadinha alternam-se em dois". Em seu artigo, o músico Marcos André explica melhor: "São duas levadas diferentes: o compasso de seis por oito e o de dois por quatro, parecido com o do samba e da umbanda". A geografia do jongo faz variar também seu ritmo. De acordo com Noel, "os pontos de seis por oito são tradicionais no médio Paraíba e os de dois por quatro dominam no noroeste fluminense. Em Quissamã o jongo congregaria as duas tradições rítmicas, transformando-as singularmente num ritmo próprio.

Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira
Comentando o redescobrimento da tradição popular africana do jongo em nosso país nos últimos anos, sobretudo após 2005, quando a expressão foi considerada patrimônio imaterial da cultura brasileira pelo Ministério da Cultura e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Noel fala sobre a inserção do jongo de Quissmã neste cenário: "O caso da Machadinha exemplifica como a revalorização do jongo contribui para a auto-estima, assim como para a inclusão social das comunidades afrodescendentes. A prefeitura de Quissamã está restaurando as senzalas, onde vivem 200 pessoas, de 46 unidades familiares. Depois de várias apresentações fora do município, os jongueiros ganharam visibilidade aos olhos da população". Em 2009, a Machadinha irá sediar o 13º Encontro Nacional de Jongueiros.

Tambores da Machadinha abrem 2ª MFAERO
O grupo Tambores da Machadinha, formado por 30 jongueiros, fará uma apresentação especial em Rio das Ostras, no dia 8 de novembro, na abertura da 2ª Mostra do Filme Ambiental e Etnográfico de Rio das Ostras. A apresentação acontecerá na praça São Pedro, no Centro, às 15h. Será a primeira apresentação do grupo de jongo de Quissamã em Rio das Ostras e uma excelente oportunidade para conhecer mais sobre a cultura brasileira e de nossa região.

Do dança africana para a poesia do nordeste brasileiro
Após a apresentação do grupo Tambores da Machadinha, um coquetel será servido no CineRitz Holiday, no shopping Holiday, Centro, seguido da sessão de abertura da 2ª MFAERO, com o longa-metragem Patativa do Assaré, Ave Poesia, do cineasta cearense, Rosemberg Cariry. Vale destacar que o filme sobre o poeta Patativa do Assaré, é inédito, não tendo entrado ainda em circuito comercial. Censura livre. Entrada franca.

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