O Rappa usa enxadas e piano de brinquedo em novo disco, "7 Vezes"
Sucessor de acústico tem sonoridade orgânica e sons extraídos de instrumentos inusitados; letras ainda apostam em temas sociais
Cinco anos separam “O Silêncio Q Precede o Esporro” (2003), último disco de inéditas d’O Rappa, de “7 Vezes”, o novo álbum da banda.
O intervalo foi longo, mas parece ter sido artisticamente muito produtivo, como os músicos deram a entender em entrevista coletiva realizada em São Paulo na noite desta quarta-feira (13). A começar pelo fato de, nesse meio tempo, a banda ter lançado um bem-sucedido “Acústico MTV” (2005), trabalho que os integrantes tomam como referência principal ao falarem do novo álbum. “O Tom (Capone, produtor de “O Silêncio Q Precede o Esporro”, falecido em 2004) sempre quis que a gente fizesse um acústico.
E foi aí que começamos a experimentar novas coisas. Fizemos muita pesquisa para produzir o disco.
E na turnê do ‘Acústico MTV’ compramos instrumentos diferentes para tirar novos sons. Quando fizemos shows na Europa, cada um de nós foi para um canto, tentar descobrir coisas novas.
O Tom nos fez pensar dessa forma. ‘7 Vezes’ é uma evolução do ‘Acústico’”, explica Lauro Farias, baixista.
A curiosidade por novos sons e timbres, estimulada por Capone, fez cada integrante do grupo ter seus dias de Hermeto Pascoal. Guitarras, bateria, instrumentos de percussão e baixo dividiram espaço com garrafas, enxadas, embalagens de comida e até instrumentos infantis. “Comprei um piano de criança antigo, para a minha filha, em um antiquário em frente da minha casa.
Acabei pedindo emprestado a ela”, conta Marcelo Lobato, baterista, aos risos. “Usar esses instrumentos inusitados não é novidade.
Mas nem todo mundo faz isso no universo pop. É algo que remete a uma época em que você precisava improvisar, porque não tinha acesso a instrumentos. É uma maneira de não nos esquecermos de onde viemos”, completa Lobato, mais sério desta vez.
Além dos sons únicos que só latinhas e brinquedos de criança conseguem propiciar, a banda também se dedicou a encontrar timbres específicos em inúmeros modelos de guitarras, baixos e amplificadores.
A intenção era gravar um disco “orgânico”, em que tudo o que se ouve foi realmente tocado. “Os produtores (Ricardo Vidal e Tom Sabóia) vieram com essa proposta nova de gravarmos tudo, sem usar loops (trechos de gravações repetidos) ou outros recursos na finalização, como fazíamos. E topamos.
Usei vários instrumentos e amplificadores procurando o melhor. E a gente acabou descobrindo que os melhores eram sempre os equipamentos mais vagabundos que tínhamos”, diz o guitarrista Alexandre Menezes, o Xandão. Se a experimentação adiciona novas camadas ao som d’O Rappa, as letras da banda continuam a apostar nos temas sociopolíticos que fizeram a fama do grupo.
Os versos do vocalista Marcelo Falcão ainda remetem a imagens do cotidiano e da guerra urbana carioca, mas os músicos rejeitam o rótulo de “banda de protesto”, colado ao grupo desde que “A Minha Alma (A Paz Que Eu Não Quero)”, música e vídeo, explodiram em 2000. “Essa onda de ‘protesto’ parece muito sisuda.
E nós não somos assim, somos bem-humorados”, afirma Lobato. Mas o que explicaria versos como “E no meu sonho / vejo as favelas unidas”, de “Maria”, a nona canção do álbum, por exemplo? Falcão tenta por um ponto final na discussão: “A gente defende e critica muitas coisas, porque realmente não nos esquecemos de onde viemos.
Mas você não vai identificar a bandeira política que levantamos, nem a musical. A gente deixa as pessoas decidirem.
Não nos vejo como banda de protesto, não curto esses rótulos, mas metemos o dedo na ferida mesmo”, esclarece o compositor. “7 Vezes” é lançado pela Warner Music Brasil. A turnê de lançamento do álbum começa dia 28/8, no Canecão, no Rio de Janeiro.
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