Ossétia do Sul: Geórgia matou 1,4 mil pessoas

Mapa da região em conflito


Os bombardeios e a ofensiva das tropas georgianas contra a Ossétia do Sul causaram nesta sexta mais de 1,4 mil mortes, afirmou o líder da região separatista, Eduard Kokoiti. ''Morreram mais de 1,4 mil pessoas. Seguiremos informando os dados, mas as baixas são dessa ordem, e se baseiam nas informações dos familiares das vítimas'', disse Kokoiti.
O Ministério da Defesa da Rússia denunciou por sua parte que mais de 10 tropas de paz russas morreram hoje, e outras 30 foram feridas em um ataque das tropas georgianas aos quartéis das forças de paz em Tskhinvali.
A Rússia enviou hoje tropas, 150 carros de combate e peças de artilharia à Ossétia do Sul, com o objetivo declarado de ''proteger as forças de paz russas e os habitantes dessa região'', que em sua maioria têm cidadania russa.
O Exército russo afirmou que suas unidades blindadas tomaram posições próximo a Tskhinvali e atacaram posições das tropas georgianas que bombardeavam a cidade.

Em nota à imprensa, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia acusou a Geórgia --país apoiado politicamente e militarmente pelos Estados Unidos-- de promover um ''ataque traiçoeiro''. ''Na noite de 7/8 de agosto, apenas algumas horas depois do acordo de paz ter sido alcançado a dialogar para resolver o novo ciclo do conflito Ossétia do Sul/Geórgia, unidades militares georgianas realizaram um traiçoeiro e maciço ataque em Tskhinvali. O cenário da utilização de força foi escolhido pela liderança da Geórgia, apesar de todos os esforços diplomáticos que foram levadas a cabo nos contatos entre Moscou, Tbilisi, Tskhinvali, Washington e outros'', diz a nota.


O documento, diz ainda que ''os líderes da Geórgia deveriam pensar melhor e voltar a métodos civilizados para resolver os problemas complexos de uma solução política''.

''Esperamos também que os nossos parceiros estrangeiros e da comunidade internacional como um todo não vão ficar indiferentes neste difícil momento em que os destinos das centenas de milhares de pessoas que vivem nesta região estão a ser decididos. É necessário pôr cobro à violência em conjunto que está cheio de graves consequências para a segurança internacional e regional'', conclui a nota.

Entenda o conflito envolvendo Rússia e Geórgia na Ossétia do Sul

A escalada das tensões entre a Geórgia e os separatistas da região de Ossétia do Sul evoluiu para violentos combates nos últimos dias e o envolvimento da Rússia, que enviou tanques para a região em apoio aos rebeldes, suscitou temores de uma guerra na volátil região do Cáucaso.

A administração separatista da Ossétia do Sul vem tentando obter reconhecimento desde que declarou a sua independência do governo central, após uma guerra civil nos anos 90. A Rússia tem uma força de paz na região, mas o governo de Moscou também apóia os separatistas.

A BBC preparou uma série de perguntas e respostas que explicam os principais pontos da crise:

Qual é o atual status da Ossétia do Sul?

A Ossétia do Sul tem tido um governo próprio desde que lutou com a Geórgia pela sua independência em 91 e 92, logo após o colapso da União Soviética. Durante o conflito, a região declarou sua independência, mas ela não foi reconhecida por nenhum país. O presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, prometeu colocar a Ossétia do Sul e outra região separatista, a Abecásia, sob controle da Geórgia.

Por que os ossetianos querem se separar?

Os ossetianos são uma etnia originária das planícies russas ao sul do Rio Don. Eles têm identidade e cultura diferentes da dos georgianos e uma língua própria. No século 13, as invasões mongóis empurraram a etnia para as montanhas do Cáucaso, e os ossetianos se estabeleceram ao longo da atual fronteira da Geórgia com a Rússia. Os ossetianos do sul querem se juntar à Ossétia do Norte, que é uma república autônoma dentro da Federação Russa. Os georgianos são uma minoria na Ossétia do Sul, representando menos de um terço da população. A Geórgia rejeita o nome Ossétia do Sul, preferindo chamar a região pelo nome antigo, Samachablo, ou Tskhinvali, a principal cidade da região.

O que detonou esta crise?

As tensões vinham aumentando desde a eleição do presidente Saakashvili em 2004. Ele ofereceu à Ossétia do Sul diálogo e autonomia, mas no contexto de um só Estado, o da Geórgia. Em 2006, os ossetianos do sul votaram em um referendo extra-oficial em uma tentativa de fazer pressão pela independência completa, e segundo as autoridades da Ossétia, a maioria esmagadora da população o fim da união com Tblisi. Em abril de 2008, a Otan disse que a Geórgia poderia no futuro vir a ser um membro da aliança militar - o que irritou a Rússia, que se opõe à expansão da Otan para o leste. Semanas depois, a Rússia reforçou os seus laços com as regiões de Ossétia do Sul e Abecásia. Em julho a Rússia admitiu que seus caças entraram no espaço aéreo da Geórgia, na região da Ossétia do Sul. Confrontos antes esporádicos se escalaram, até que, segundo informações não confirmadas, seis pessoas acabaram mortas por projéteis de forças georgianas.

A Rússia poderia se envolver diretamente numa guerra?

A Rússia insiste que tem agido como uma força de paz na Ossétia do Sul e nega as acusações de que vem fornecendo armas aos separatistas. No entanto, Moscou já prometeu defender os cerca de 70 mil cidadãos russos que vivem na Ossétia do Sul. A Rússia pode interpretar uma intervenção militar como uma opção menos arriscada do que reconhecer a independência da Ossétia do Sul, o que poderia levar a uma guerra com a Geórgia.

As ligações da Geórgia com a Otan podem influenciar este conflito?

O presidente Saakashvili fez da entrada na Otan uma de suas prioridades. A Geórgia tem um relacionamento próximo com os Estados Unidos e vem cultivando vínculos com a Europa Ocidental. Há quem diga que Saakashvili espere levar a Otan a um conflito com Moscou, de forma a formalizar a aliança. Mas analistas dizem que é difícil imaginar que a Otan se deixe arrastar para um conflito com a Rússia por causa da Geórgia, depois de ter se esforçado para evitá-lo por tanto tempo.

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